Sexta-feira, 8 de Abril (1922)

Virginia Woolf

Elaine Pinto Silva
3 min readDec 5, 2020

Tradução de Elaine Pinto Silva

Foto de Philipp Berndt em Unsplash. Descrição: Foto de um cômodo vazio com duas portas abertas ao centro que dão para outro cômodo vazio, todo o piso é de madeira.

Sexta-feira, 8 de Abril (1922) 10 minutos para às 11h

E eu deveria estar escrevendo O quarto de Jacob; mas não consigo e, em vez disso, escreverei o motivo pelo qual não consigo - este diário é um velho confidente de rosto branco e gentil. Bem, veja, eu sou um fracasso como escritora. Estou fora de moda; velha; não posso fazer melhor; não tenho inteligência; a primavera está em toda parte; meu livro foi lançado (prematuramente) e cortado, um fogo de artifício molhado. A verdade é que Ralph mandou meu livro para o The Times para revisão sem data de publicação. Assim, um breve aviso, embaralhado, de que está para chegar "na segunda-feira, no máximo", colocado num lugar obscuro, um tanto desconexo, bastante elogioso, mas nada inteligente. Quero dizer com isso que eles não percebem que estou atrás de algo interessante. Então isso me faz suspeitar que eu não sou. E, portanto, não posso seguir com Jacob. Ah, e o livro de Lytton foi lançado e ocupa três colunas; elogios, suponho. Não me preocupo em esboçar isso em ordem; ou como meu temperamento afundou e afundou até que por meia hora eu estivesse tão deprimida como sempre. Quero dizer, pensei em nunca mais escrever - salvo as resenhas. Para esclarecer isso, tivemos uma comemoração no 41: para parabenizar Lytton; foi tudo como deveria ser, mas ele nunca mencionou meu livro, que suponho que ele tenha lido; e pela primeira vez não tenho o elogio dele com que contar. Agora, se eu tivesse sido saudada pelo Lit. Sup. como um mistério - um enigma, não me importaria; pois Lytton não gostaria desse tipo de coisa, mas se eu for tão simples como o dia e insignificante? Bem, essa questão do elogio e da fama deve ser enfrentada. (Esqueci de dizer que Doran recusou o livro na América.) Que diferença a popularidade faz? (Devo acrescentar que, depois de uma pausa em que Lottie trouxe o leite e o sol parou de se eclipsar, estou colocando com clareza, que estou escrevendo muitas bobagens.). O que se quer é, como Roger disse muito verdadeiramente ontem, manter-se atual; que as pessoas se interessem e acompanhem o trabalho. O que me deprime é a ideia de ter deixado de interessar as pessoas - no exato momento em que, com a ajuda da imprensa, pensei que estava me tornando mais eu mesma. Não se quer uma reputação estabelecida, como acho que estava ganhando, como uma de nossas principais romancistas. Ainda preciso, é claro, reunir todas as críticas particulares, que é o verdadeiro teste. Depois de pesar isso, poderei dizer se sou "interessante" ou obsoleta. De qualquer forma, sinto-me suficientemente alerta para parar, se estiver obsoleta. Não serei máquina, a não ser máquina de moer artigos. Enquanto escrevo, surge em algum lugar da minha cabeça aquela sensação estranha e muito agradável de algo que quero escrever; meu próprio ponto de vista. Eu me pergunto, porém, se esse sentimento de que escrevo para meia dúzia em vez de 1.500 vai perverter isso? - me torna excêntrica - não, acho que não. Mas, como eu disse, é preciso enfrentar a vaidade desprezível que está na raiz de toda essa mesquinhez e barganha. Acho que a única receita para mim é ter mil interesses - se um estiver danificado, ser capaz de instantaneamente deixar minha energia fluir para o russo, ou grego, ou a imprensa, ou o jardim, ou pessoas, ou alguma atividade desconectada com minha própria escrita.

Este é um trecho de “A Writer’s Diary” de Virginia Woolf, traduzido por Elaine Pinto Silva.

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